O Choque do futuro foi seu primeiro livro, e um sucesso editorial, mas Alvin Toffler se tornou conhecido do grande público por sua obra A Terceira Vaga (no Brasil editado como a "Terceira Onda", do inglês The Third Wave) de 1980, na qual descreve a evolução da sociedade humana, desde o tempo do predomínio das atividades agrícolas, passando pela fase industrial, até a era pós-industrial, a era da informação. A expressão "terceira onda" foi amplamente adotada e passou a estar presente no cotidiano da mídia, do meio acadêmico e empresarial. Alvin Toffler se tornou uma referência sobre assuntos contemporâneos, e as perspectivas de seu desenvolvimento, em um futuro mais ou menos remoto. O modo, enfim, como a sociedade experimentará os efeitos dessas mudanças em termos políticos, econômicos e nos demais aspectos da vida social.[2]
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1 Terceira Onda (Alvin Toffler) O objetivo principal do trabalho meu e de minha mulher, Dra. Heidi Toffler, nos últimos trinta anos, tem sido tentar compreender o fenômeno das mudanças. Esse trabalho foi consubstanciado na trilogia Future Shock (1970), The Third Wave (1980), e Powershift (1990). Hoje pretendo refletir um pouco sobre mudanças, incluindo no escopo da reflexões mudanças na América Latina e no Brasil. Estamos hoje vivendo um período revolucionário, mas a revolução não é apenas tecnológica. Embora computadores e telecomunicações tenham um papel importante nas mudanças revolucionárias que estão acontecendo, é importante reconhecer que as mudanças também são econômicas, sociais, culturais, políticas, religiosas, institucionais e até mesmo filosóficas ou, mais precisamente, epistemológicas. Uma nova civilização está nascendo, que envolve uma nova maneira de viver ("a new way of life"). Na verdade, a amplitude e a profundidade das mudanças que estão acontecendo são tão grandes que podemos dizer que apenas duas outras vezes, na história da humanidade, mudanças semelhantes ocorreram. A primeira vez foi quando a raça humana passou de uma civilização tipicamente nômade para uma civilização basicamente agrícola, sedentária. Isso se deu cerca de 10 mil anos atrás. A segunda vez foi quando a raça humana passou de sua civilização predominantemente agrícola para uma civilização basicamente industrial. O início dessa mudança se deu há cerca de 300 anos, nos Estados Unidos e na Europa, mas muitas regiões do mundo ainda não atingiram esse estágio. A terceira revolução está acontecendo agora. Ela começou a acontecer por volta de 1955 nos Estados Unidos e em alguns outros países que estavam no auge do seu desenvolvimento industrial. Em The Third Wave chamei essas três revoluções de "ondas".embora essa terceira onda tenha sido chamada por vários nomes (Sociedade Pós-Industrial, Sociedade da Informação, etc.), a melhor maneira de entendê-la é contrastando-a com a segunda onda, a era da civilização industrial. I) Em primeiro lugar, é preciso ressaltar que o que distingue uma onda da outra é, fundamentalmente, um sistema diferente de criar riqueza. A alteração da forma de produção de
2 riqueza é acompanhada, porém, de profundas mudanças sociais, culturais, políticas, filosóficas, institucionais, etc. Na primeira onda a forma de criar riqueza era cultivando a terra. Os meios de produção de riqueza eram, portanto, a terra, alguns implementos agrícolas (a tecnologia incipiente da época), os insumos básicos (sementes), e o trabalho do ser humano (e de animais), que fornecia toda a energia que era necessária para o processo produtivo. Do ser humano se esperava apenas que tivesse um mínimo de conhecimento sobre quando e como plantar e colher e a força física para trabalhar. Essa forma de produção de riquezas trouxe profundas transformações sociais, culturais, políticas, filosóficas, institucionais, etc., em relação ao que existia na civilização que a precedeu (civilização nomádica). Na segunda onda, a forma de criar riqueza passou a ser a manufatura indústrial e o comércio de bens. Os meios de produção de riqueza se alteraram. A terra deixou de ser tão importante, mas, por outro lado, prédios (fábricas), equipamentos, energia para tocar os equipamentos, matéria prima, o trabalho do ser humano, e, naturalmente o capital (dada a necessidade de grandes investimentos iniciais) passaram a assumir um papel essencial enquanto meios de produção. Do ser humano passou a se esperar que pudesse entender ordens e instruções, que fosse disciplinado e que, na maioria dos casos, tivesse força física para trabalhar. Essa nova forma de produção de riquezas também trouxe profundas transformações sociais, culturais, políticas, filosóficas, institucionais, etc., em relação ao que existia na civilização predominantemente agrícola. Nós todos conhecemos bem as características desta civilização industrial, porque nascemos nela e, em grande parte, ainda continuamos a viver nela. Na terceira onda, a principal inovação está no fato de que o conhecimento passou a ser, não um meio adicional de produção de riquezas, mas, sim, o meio dominante. Na medida em que ele se faz presente, é possível reduzir a participação de todos os outros meios no processo de produção. O conhecimento, na verdade, se tornou o substituto último de todos os outros meios de produção. Na guerra, por exemplo, um centímetro quadrado de silício, na forma de um chip programado, pode substituir uma tonelada de urânio. O conhecimento se tornou ingrediente indispensável de armamentos inteligentes, que são programáveis para atingir alvos específicos e selecionados. Para derrotar o inimigo, freqüentemente basta destruir seu sistema de
3 informações. Mas, além deste primeiro aspecto em que a terceira onda difere das outras duas, quais são os outros aspectos principais em que a civilização da terceira onda, que começa a aparecer, se distingue da civilização industrial? II) Em segundo lugar, e em decorrência do que acabou de ser dito, é preciso ressaltar que, na civilização da terceira onda, as coisas mais importantes em uma empresa ou uma organização são intangíveis. Na segunda onda media-se a importância ou o valor de uma empresa ou organização pelo número de prédios, equipamentos e funcionários que ela possuía, ou pela quantidade de sua produção ou de seu inventário -- tudo muito tangível, facilmente mensurável. Na terceira onda, a importância e o valor de uma empresa ou organização é o conhecimento que ela possui -- e esse conhecimento existe dentro da cabeça das pessoas que lá trabalham, sendo, portanto, intangível e difícil de quantificar. III) Em terceiro lugar, da segunda para a terceira onda está havendo uma mudança da produção em massa para a produção desmassificada, para o lote de produção pequeno (até de um), para a adaptação do produto ao que o consumidor deseja (ao invés do que acontece na civilização industrial, em que se tenta adaptar o desejo do consumidor ao padrão que está sendo produzido). Na civilização industrial era muito caro fazer um produto diversificado. Para se alterar as características de um produto freqüentemente era necessário parar a fábrica toda, deixar os trabalhadores inativos por um tempo considerável. Hoje em dia, o custo de diversificar um produto, adaptando-o aos desejos do consumidor, está diminuindo sensivelmente e caminha na direção de zero. O lote de produção típico poderá ser de um ("lot size=1")(...) A civilização da terceira onda tem sido chamada de sociedade da informação. Poucos se perguntam por que a informação se tornou tão importante na terceira onda. A razão está no fato de que os sistemas sociais, isto é, a sociedade, se desmassificou, e, conseqüentemente, se complexificou, a tal ponto que, hoje, é impossível geri-la sem informação e sem tecnologia da informação (computadores e telecomunicações). IV) Em quarto lugar, está havendo uma mudança na própria natureza do trabalho. Durante a primeira e a segunda ondas o trabalho era basicamente físico, muscular. O trabalhador era treinado a não fazer perguntas, não pensar, não inovar. Quanto menos o trabalhador pensava e era criativo, mais o empregador gostava dele. Hoje em dia, exige-se do trabalhador que o trabalhador seja preparado, que pense, que seja criativo. Na Guerra do Golfo os Estados Unidos tiveram os soldados mais bem preparados que jamais existiram. Estavam
5 distribuição distintos, levando em conta mais de 600 arranjos promocionais a cada momento. Seria impossível fazer isso sem integração dos sistemas(...) VIII) Rapidez, na terceira onda, é um componente crítico do sucesso. Por isso se criaram Just in Time Manufacturing, Concurrent Engineering, etc. Se o dinheiro se movimenta na velocidade da luz, a informação tem que andar mais depressa ainda. Tempo = dinheiro, diziase. Hoje é preciso dizer que cada intervalo de tempo = mais dinheiro. O processo está em aceleração. IX) Por causa de todas as características anteriores, a comunicação, ou o desenvolvimento de infraestruturas eletrônicas, se torna uma prioridade indispensável na civilização da terceira onda. Entretanto, mesmo um país como os Estados Unidos, onde o Vice- Presidente entende de tecnologia, se alocam recursos da ordem de 1 bilhão de dólares para a National Research and Educational Network (NREN) e cem vezes mais para estradas de rodagem. A política, na verdade, anda muito mais devagar do que a economia. O tipo de insfraestrutura que um país constrói mostra se seus líderes entendem o futuro. Na China de hoje os planejadores estão dizendo que é mais importante esparramar telefones pelo país do que estradas. O telefone celular já está na China há algum tempo, e os planos de investimento são assustadores. Contrastemos isso com a Venezuela de alguns anos atrás, que, nadando em recursos oriundos da venda de petróleo, resolveu investir numa infraestrutura da segunda onda (tanques de petróleo, refinarias, estrada de ferro). Uma infraestrutura eletrônica e computadorizada é indispensável para acelerar as mudanças e tudo o mais. X) Na civilização da terceira onda o planejamento deve ser antecipatório, e deve prever o fato de que a mudança de estruturas econômicas, sociais e políticas freqüentemente causa conflito e perturbação da ordem. É preciso estar preparado para isso. O poder já mudou de mãos na civilização da terceira onda, mas as estruturas políticas ainda não acompanharam. Estamos vivendo época semelhante à que precedeu a Revolução Francesa, em que a burguesia já havia tomado conta do poder informal, mas as estruturas políticas não haviam ainda se adequado a essa realidade. Houve naquela época conflito entre as elites agrárias e feudais, de um lado, e a burguesia, de outro, entre a agricultura, de um lado, e a indústria e o comércio, de outro. A burguesia ganhou, mas isso freqüentemente custou um preço alto. Houve guerras civis, guerras entre países, imigração em massa, todos os tipos de problemas sociais sérios. Vai haver conflito semelhante agora, entre as elites da civilização da segunda onda e
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